terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O meu Livro - Sem Título (ainda) III

As suas idas ao intendente deixavam-no angustiado. Chegava a casa transtornado, a mente fixa, o olhar desconfiado, vidrado. Suspeitava de todos… Andavam a segui-lo, tinha a certeza. Confirmava sempre se o seu revólver estava como o deixara. Um dia iriam descobri-lo e aí é que havia de ser o bonito. O que diria o Dr. Araújo? – Bom, efectivamente, sobre o Francisco não há muito a dizer, Sr. Agente. Ele mantinha um comportamento profissional exemplar, de uma pontualidade britânica, não fazia amizades mas também não era antipático. Pelo contrário, sempre foi muito correcto, respeitador, zeloso e cumpridor. Com quem? Não! Não mantinha amizades com ninguém que eu conheça. – E a Celina? – Ah …nunca pensei, então mas ele trabalhava aqui mesmo ao meu lado… nunca, nunca suspeitei de nada… parece impossível! – Um dia iriam descobri-lo e aí a menina Lucília não iria perdoá-lo, iria expulsá-lo… afinal, ela era uma senhora de bem, não permitiria ver o seu hóspede ali, naqueles preparos no intendente.
Todas as manhãs, o ritual era o mesmo. E era mesmo um ritual. Levantava-se, enfiava os pés nos seus chinelos perfeitamente alinhados com o rebordo da cama, bebia um copo com água, tomava banho em não mais de sete minutos, lavava os dentes, vestia-se, em precisamente, três minutos – umas calças de fazenda, uma camisa branca e um colete. No Inverno vestia o sobretudo – Fazia a cama e saía para a sala. O pequeno-almoço já estava servido e os jornais em cima da mesa. Todos os jornais empilhados em cima da mesa. Francisco pagava um extra generoso por estes mimos – Bebia então a sua chávena de café com leite, comia uma carcaça com manteiga, uma fatia de bolo de tangerina e acabava com um sumo de laranja – por causa da gripe – Procurava “a notícia”. NADA! Um dia iriam apanhá-lo no intendente. –

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