terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O meu livro - Sem Título (ainda) IV

Depois saía, apanhava o autocarro até ao seu trabalho que ficava a um quarteirão da paragem. Pelo que, andava todos os dias a pé, precisamente, dezasseis minutos. Oito de manhã e oito à tarde. Entrava na repartição, todos os dias, impreterivelmente à mesma hora: 08:57minutos Bom dia Dr. Araújo! Olá Bom dia Celina. E não emitia nem mais uma palavra, a menos as estritamente necessárias. Sentava-se à sua antiga secretária de madeira, milimetricamente arrumada, e dedicava-se ao seu trabalho que realizava com uma precisão de relojoeiro. Mas o seu pensamento nunca estava ali. Saltava, constantemente, entre a sua menina Lucília, o seu revólver e a sua notícia que não saía… um dia iriam apanhá-lo, e aí é que ía ser o bonito… tinha o seu revólver, tinha de fazer algo, e a menina Lucília? Ela não sabia. Não tinha como. Mergulhado nos seus pensamentos deixou escapar em voz alta – Pobrezinha! Enganada dessa maneira... – Celina olhou atónita para ele… pensou que era para si… não se conteve – Desculpe lá Sr. Francisco, não é que lhe diga respeito. Mas eu não sou pobrezinha nenhuma. Ele vai deixar a mulher e vai casar comigo. E se pensa que o faço pela promoção. Desengane-se, não preciso. Nós amamo-nos mesmo! – O nosso homem não percebeu nada daquela conversa, tinha o seu cérebro noutro mundo pensou que ela estava com as regras. E já se sabe, quando as mulheres estão assim é de nunca as contrariar. Isso, ele sabia. O Dr. Araújo por seu lado ficou escarlate de raiva, ainda ontem tinha conseguido pôr as mãos no bombonzinho e já lhe estava a criar problemas… ah se a sua mesa falasse… No dia seguinte Celina meteu baixa e Francisco nunca mais a vira. Supostamente, suicidar-se-ia seis meses depois, após um plano que não lhe correra assim tão bem…

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