terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O meu Livro - Sem Título (ainda) VIII

O resto do dia correu com normalidade… Essa noite Alfredo iria visitar Lucília, pelo que o nosso homem já sabia que se iria deitar cedo, depois de chegar a casa, jantaria na cozinha, uma refeição rápida, e limparia o seu revólver, outra vez… Um dia iria conseguir realizar o seu plano. Era só reunir coragem… o revólver estava pronto.
Tirando o facto da nova funcionária, tudo continuava normal, calmo, imutável, pelo menos até à altura em que o Dr. Araújo, desligou o telefone, levantou-se da sua cadeira e se dirigiu à secretária do nosso homem… e a partir daí tudo se alterou!
- Oh Francisco, eu, hoje, faço anos de casado. De maneira que vamos fazer uma pequena festa lá em casa… O Francisco está convidado para aparecer.
O nosso homem ficou petrificado. Uma festa? Ele? Detestava festas… um aglomerado de gente que não conhecia, tentando fazer conversa, saber coisas da sua vida… – Oh Dr. Araújo, muito lhe agradeço o convite, mas hoje tenho uma consulta ao fim do dia. E já sabe como são os médicos, não sei a que horas saio de lá. Mas obrigado na mesma. – O Araújo, aliviado – Não tem problema nenhum. Fica para a próxima. – Não gostava de confraternizar com os seus funcionários, de misturar as coisas. Mas a Elisa tinha insistido tanto… no início ainda desconfiou de alguma coisa, mas depois… a sua Elisa? Era perfeita! Como mulher, amiga, companheira, excelente mãe e dona de casa exemplar… Não lhe conseguia apontar um defeito, e às vezes bem tentava para justificar as suas facadazinhas no matrimónio… mas não havia. Como poderia então ele recusar um pedido da sua borboletinha? Ligou-lhe… Tou, tou… como está a minha borboleta? Olha, tira um lugar da mesa que o Francisco não pode ir… diz que tem uma consulta… – Calou-se e desligou o telefone. Levantou-se da sua cadeira, e dirigiu-se novamente a Francisco – A Elisa diz que fica ofendida se não aparecer lá esta noite… faz muita questão… sabe como são as mulheres… vá lá à sua consulta e depois apareça… esperamos por si. – E virou costas antes que ele conseguisse argumentar uma desculpa qualquer. E depois quem enfrentaria a sua Elisa?
Francisco transpirava, começou a sentir-se mal, faltava-lhe o ar, suores frios, a irritabilidade começou a vir à superfície – Mas que raio de insistência é esta? Qual era o objectivo? Será que ela sabia? Fazia questão da sua presença para quê? Eles até já nem davam assim tão bem, pelo menos, não tão bem como quando andaram no liceu… aliás, desde aquela tarde nunca mais estivera a sós com ela…

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