terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O meu livro - Sem Título (ainda) V

Durante cinco longos meses, Celina, carpiu as suas mágoas fechada no seu quarto. Não saía, não comia não queria falar com ninguém. Como é que era possível? Ela amara-o verdadeiramente, com todo o seu ser, e fora enganada. O Araújo fora o seu primeiro homem… a sua primeira vez… Ele ia ficar com ela e iam ser felizes. Ia ser uma boa mãe para os seus filhos… E, ele, estragou tudo. Enganou-a! E ela tinha de continuar a viver sem ele… não iria aguentar… o melhor era acabar com tudo… Não queria continuar a viver sem ele… queria morrer. Morrer de amor! Iria acabar com a vida e, pelo caminho, com o casamento do Dr. Araújo e a sua queridinha Elisa.
E assim, a vinte e três de Outubro, Celina, escreveu a mais longa carta da sua vida… Despejou lá a sua alma, despiu-se de todas as verdades e deixou-as ali naquelas folhas. Quando encontrassem aquela carta não restaria mais nada da reputação do Dr. Araújo.Bebeu uns horríveis tragos de uísque, saltou para dentro do carro e arrancou furiosamente com a sua carta nas mãos… amarrotada… O rádio gritava uma música qualquer, o seu cérebro em alta rotação… em direcção à ponte… estranhamente não havia trânsito… Fora traída… Ele usara-a… Quem é que ele pensava que era? A sua mulherzinha nunca lhe iria perdoar, tinha a certeza… e ela amara-o tanto… que dor tão grande no peito! Guinou o volante, chiaram os pneus, fechou os olhos, não gritou… um baque, um estrondo e logo a seguir silêncio… tinha morrido! Pensou. Em menos de trinta segundos pensou em tudo… e lembrou-se: Se caiu na água, como é que leriam a sua carta de papel? NÃO! Deitou tudo a perder… morreu em vão! Ele iria ficar feliz com a sua mulher e ela nunca mais existiria… Abriu os olhos… Não morrera, o carro não caíra e a carta ainda estava na sua mão. Estava pendurada na ponte. Podia emendar tudo! Como tinha sido burra…. E riu! Riu muito… riu até lhe faltar o ar. Não precisava morrer… enviaria a carta por correio e continuaria a sua vida. Ia cortar o cabelo, ia pintá-lo – sempre quis o seu cabelo louro – ia esquecê-lo e ia viver. Atrás, chegou um carro… Que bom! Uma ajuda!

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